Os Toques e o ofício do Sineiro

O badalar dos sinos regula a vida de uma comunidade, organiza o tempo e age como promotor de limiaridades – processo ritual marcado pela suspensão dos elementos de vínculo social, estado de passagem ou transição que resulta em um novo ordenamento das funções sociais. A música dos sinos, neste contexto, opera em dois modos: um que expressa nuances de júbilo, alegria, euforia e outro que opera no âmbito da contrição, tristeza, luto. Esse binômio povoa a percepção coletiva e marca mudanças de comportamento social, (re)estruturam socialmente o tempo, ou ao menos atualizam normas e estruturas sociais no tempo. O presente acervo conta com o registro dos toques de sino nas cidades de Pirenópolis, Santa Cruz de Goiás, Pilar de Goiás, Cidade de Goiás e Jaraguá. Cidades goianas fundadas nos sec. XVII, pertencentes ao que convencionou-se nominar “ciclo do ouro”, marcado pela expansão “bandeirante” para o oeste brasileiro e a exploração do minério. Locais que passaram por um período de pujança econômica e forte urbanização devido à atividade mineradora,  mas que entraram em “decadência” após ciclos relativamente curtos de exploração e um suposto esgotamento dos recursos minerais.

Além dos toques de sino, registramos – por meio de entrevistas –  a fala dos atores/sujeitos/agentes relacionados ao toque dos sinos: sineiros, sineteiros, tocadores de sino, comunidade – suas memórias. Buscamos trazer narrativas dos próprios agentes sobre a atividade e seu entendimento sobre as dinâmicas culturais de suas comunidades, reflexões sobre a “patrimonialização” de seus modos de vida. A partir da variedade musical (rítmico-melódica) dos toques de sino somado ao conteúdo das falas registradas em entrevistas com sineiros, párocos, religiosos, procuramos esboçar um painel sobre a atividade dos sineiros e os toques de sino. O estímulo sonoro compreendido como marcador temporal, implica em reconhecer a importância de tal elemento no cotidiano dessas comunidades. Falar da história de um grupo de atores sociais implica em grande responsabilidade e, sobretudo, cautela frente à abordagem e ao tratamento dado à situação de pesquisa. Foi realizada uma pesquisa em música com reflexões sobre o patrimônio imaterial que desdobra-se em reflexões sobre a cultura popular e o patrimônio.

1. Dona Telma (Fazenda Babilônia, Pirenópolis, 24.03.2018)
2. Chamada de Missa (Fazenda Babilônia, Pirenópolis, 24.03.2018)
3. Mario (Igreja N. Sra. do Pilar, Pirenópolis, 11.03.2018)
4. Toque Fúnebre (Igreja N. Sra. do Pilar, Pirenópolis, 11.03.2018)
5. Idimar (Santa Cruz de Goiás, 18.02.2018)
6. Toque Fúnebre (Igreja Imaculada Conceição, Santa Cruz de Goiás, 18.02.2018)
7. Dimas (Jaraguá, 16.03.2018)
8. Toque Fúnebre (Igreja N. Sra. da Conceição, Dimas, 16.03.2018)
9. Frei Marcos (Santuário do Rosário, Cidade de Goiás, 27.03.2018)
10. Sino da Boa Morte (Museu da Boa Morte, Cidade de Goiás, 26.07.2018)
Compartilhe nas suas redes sociais!

One Comment

  1. Achei incrível o trabalho sobre as identidades sonoras e a regulação dos modos cotidianos de vida de comunidades históricas. Estou desenvolvendo uma pesquisa que visa tratar das questões imagéticas ligadas a tradição da Semana Santa em Oeiras-PI, reconhecida até hoje como a capital da fé, apesar de a capital do Piauí ser Teresina a muitos anos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *