Metrô de Brasília

Sobre

A paisagem sonora do Metrô de Brasília difere de algumas cidades por ser uma linha férrea mista, ora subterrânea, ora superficial. As linhas e estações de superfície têm realidades acústicas distintas que participam de forma incisiva no cotidiano auditivo das áreas contíguas e possui intensidade sonora pouco menor que a resultante tímbrica, diferente da sonoridade entubada da linha subterrânea. A linha de túnel subterrâneo, justamente por causa do tubo, apresenta maior intensidade sonora e um timbre robusto e denso, resultado da alta reflexão e reverberação e baixa absorção na acústica do túnel. Nas estações, o pé-direito muito alto também gera particularidades acústicas de eco, reforço frequencial, mascaramento alternado e reverberação longa. É possível identificar uma parte da ambiência sonora da estação quando se houve uma mudança brusca na sonoridade após o fechamento ou abertura da porta do trem.

ÁUDIO METRÔ DE BRASÍLIA 08.06.2017 [nº 3]

Como a Gravação foi feita?

O espectro sonoro do metrô é extremamente complexo e dinâmico sendo possível escutar “gestos musicais” tanto no traslado do trem quanto na linha vazia. Escuta-se a todo momento uma nota pedal no grave e no subgrave que inflexiona sua frequência e seu volume mas nunca se ausenta. Sobre esse bojo soam inúmeras frequências em médio-agudo, agudo e superagudo, as vezes estáticas com micromodulações, às vezes com amplos “portamentos” (notas que deslizam ascendente ou descendentemente, se tornam mais agudas ou mais graves sem interrupção do som). Em alguns momentos soam tantas notas contínuas (além do pedal grave) que se tem a sensação de uma sobreposição de notas musicais (uma verticalização se pensada dentro da grafia ocidental tradicional). Apesar de, na calmaria da espera do trem, os sons contínuos serem pontualmente perpassados por pequenos gestos melódicos, é na aproximação e no afastamento do trem que se multiplicam os sons de todas regiões de frequência o que gera sons “flautados” e contornos melódicos mais definidos, ora pelo mascaramento alternado da massa sonora, ora pelo salto melódico de um elemento sonante. Neste áudio abaixo, um ótimo exemplo de som flautado e de formação de aglomerados harmônicos, está aos 05’06” (cinco minutos e seis segundos).

ÁUDIO METRÔ DE BRASÍLIA 08.06.2017 [nº 1]

O que Encontramos no local?

A melodia dos sons de vento, que ficam mais intensos na chegada e na partida do trem, pode passar despercebida por soar em regiões extremas próximas ao limite da nossa capacidade auditiva de diferenciação frequencial, mas com atenção se pode perceber silhuetas harmônicas e contornos melódicos até nas ventanias do vácuo de deslocamento. Além destas sonoridades já citadas, uma das principais marcas sonoras do metrô é o freada do trem ao chegar na estação que gera sons de acentuada musicalidade.
A sonoridade do metrô é tão marcante que existem pessoas afetadas por ele nos dois extremos, desde os que sentem vertigem e agonia em escutá-lo, até os que relaxam e se deixam embalar naquela acústica, passando, obviamente, por toda espécie de indiferença a esse som.

ÁUDIO METRÔ DE BRASÍLIA 08.06.2017 [nº 2]

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